terça-feira, 31 de julho de 2007

Agora Antonioni: O Adeus dos Mestres


Porra, agora foi Antonioni! Cada dia que acordo recebo a noticia da morte de um mestre. Parece que o personagem da Morte do Setimo Selo resolveu passar essa semana para levar os últimos sobreviventes de uma arte que nunca mais foi como era antes. Amanhã quem será? Jerry Lewis, que a cada vinte dias adquiri uma nova doença? Deus me livre! Do Antonioni eu amo de paixão, entre outros, O Passageiro - Profissão: Repórter, um dos mais densos exercicios metafisicos que já vi na telas, carregados de enigmas existenciais. Ou de Blow-Up, talvez o filme-símbolo da efervecência cultural da década de 60, cujo enredo em torno de um fotógrafo é o ponto de partida para a reflexão sobre o significado da realidade e das aparências. Mas mal dá para falar nos filmes nesse instante, ainda tenho que me recobrar desses tristes óbitos.

Introduzindo no cinema italiano o subjetivismo que não se encontrava nos outros diretores de seu país, tratando de temas caros ao existencialismo do pós-guerra como a solidão, a insegurança e a angústia, Antonioni o fez através de demorados e exaustivos planos-sequencias,que buscam ilustrar atmosferas psicológicas profundas e descrever casos de incomunicabilidade entre os personagens de suas películas. Sua técnica era desconcertante, a imobilidade da câmara e a escassez de diálogos criava um clima propositadamente árido, transmitindo com perfeição a sensação de tédio, que causava um desconforto enorme no espectador, o que afastou o publico da maioria de suas obras. Quem não estivesse disposto a encarar o desafio intelectual da maioria de seus filmes, que jamais ofereciam empatia e catarse fáceis, recuava diante desse convite à reflexão pura, às suas tentativas de capturar, de congelar o movimento dentro de cada enquadramento de câmara. Antonioni foi revolucionário nesse aspecto, ao repensar o modo como se fazia cinema, influenciando dezenas de outros artistas,transcendendo o seu tempo.Sua importância como renovador da linguagem cinematográfica e cineasta original e criativo ninguém pode contestar.Sua inegável inteligência e inventividade dificilmente produziram um filme ruim. Já chato...aí é outro papo, vai depender dos olhos que vêem.

Só aos poucos vamos assimilando o choque que foi uma noticia junto da outra. É possivel que a noticia de ontem tenha comovido tanto Antonioni que, ao ver o seu último companheiro de geração desaparecer, não tenha resistido ao choque e foi junto com o diretor sueco. Foi isso que me passou pela cabeça. Ficou dificil até para falar dos filmes dos caras, quando a maioria de nós cinéfilos ainda está tentando se reerguer do choque cinematográfico que nos proporcionaram esses tristes acontecimentos. O luto continua...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Morre Bergman


Morreu Ingmar Bergman, muito provavelmente um dos cinco maiores cineastas de todos os tempos. De sua morte, todo cinéfilo que se preze já ficou sabendo. E eu não teria muito que acrescentar sobre o mestre com algo que não tenha sido dito pelos jornais, vespertinos, televisões e sites de todo mundo. Mesmo porque, ainda não assisti muitos dos seus filmes, portanto, não seria o mais indicado a fazer um homenagem mais digna. Porém, um blog de alguém que se diga cinéfilo extremado não poderia deixar de dedicar um espaço ao gênio que nos deixou. Com um estilo inconfundivel, sua sensibilidade criadora conseguia aprofundar em cada filme os aspectos principais da psicologia humana: a dor, a angústia, o medo, etc. Tudo com uma linguagem formalmente brilhante, nunca deixando de abordar intensas discussões existenciais, metafisicas e religiosas (na procura de um deus ausente). Nesse retrato da condição de solidão irremediável do individuo à qual todos nós estamos condenados, em obras quase sempre descendo às profundezas da alma humana, o universo feminino ocupou um espaço cada vez mais importante à medida que sua obra foi evoluindo desde que sua carreira adquiriu maior consistência e fôlego na década de 50. Seu primeiro filme, Crises (1945), que já se concentrava em conflitos familiares (o que seria uma das marcas registradas de sua filmografia), ainda era influenciado pelo realismo poético franc~es, especialmente o de Marcel Carné. Seus vários filmes naqueles anos seguintes, dizem os historiadores que o conferiram, seguiam essa tendência, eram de valor desigual, até que na década posterior adquiriu valor próprio e personalidade cinematográfica impar, passando a fulgurar entre os primeiros do Olimpo dos Deuses do Cinema. O Panteão dos Intocáveis é para poucos. E Bergman desde que entrou nele,nunca mais o abandonou. Vá com Deus, Ingmar Bergman!

domingo, 15 de julho de 2007

Algumas Considerações sobre o Universo Virtual

Por que será que eu já não leio como antes? Explica-se: lembro que há uns dois anos, antes de me render aos encantos e sedução de ter internet em casa, eu lia muito mais do que atualmente. Não pretendo esboçar nenhuma crítica virulenta ao mundo virtual, um veiculo o qual eu usufruo com imenso prazer, porém sinto saudades de épocas em que costumava ler até três livros por semana e, consequentemente, escrevia muito mais do que hoje em dia. Fico imaginando o quanto é difícil para muitos, como o é para mim, conciliar internet e outros hábitos caseiros imprescindíveis, no caso, os de leituras de livros importantes e a rotina de se escrever com mais disciplina.


A internet consome demais a gente. O que estou tendo dificuldades é em me policiar nesse sentido, determinando uma rotina, reservando horários, principalmente para escrever. Caso contrário, a tendência é mergulhar nesse universo virtual, a atração é grande, as possibilidades infinitas. A solução mesmo seria encontrar um meio de estruturar e conciliar tudo isso. Porque viver sem internet a maioria de nós sabe que não é mais possível. Cada vez mais vai virar utopia um individuo querer escapar desse meio, depois de ter usufruído do mesmo. Como voltar a realidade apagada e esmaecida do dia-a-dia em nosso meio social, e deixar de lado a tela do micro que em seu universo tão vasto a tudo nos responde, nos seduz, e interage com nós? Lembro que certa vez num chat qualquer conversei com um outro apaixonado por literatura e ele disse que para a internet não atrapalhar sua rotina intelectual ele passou a usá-la apenas durante o expediente de trabalho (onde usufruía de tudo que lhe é de direito em todo tipo de sites em que quisesse navegar, plugado em MSN, youtube, orkut e demais pesquisas). Em casa, nunca! Só assim para ele continuar se dedicando aos seus hábitos de leituras e escrita.

Pois algum artifício, alguma combinação consigo mesmo a pessoa tem que estabelecer. Caso contrário, é como um canto de sereia, a máquina é sedutora (o chato é que eu detesto disciplina). A pessoa precisa colocar cera no ouvido ou se amarrar num mastro, como Ulisses e sua tripulação. Caso contrário fica bem difícil colocar ordem nas coisas. No entanto, acredito que aquilo que a gente também gosta como ler e escrever, aos poucos também nos atrairá de novo com sua melodia própria. Para quem lida e gosta disso fica difícil largar dessa maneira. Por isso acho que, com uma ajuda consciente da própria pessoa, o problema se resolverá naturalmente. Mesmo porque, por mais informações que a internet transmita,e por mais espaço que exista para a gente deixar algumas palavras escritas ao léu, a sensação é que aqui tudo é rápido, ligeiro e superficial, muito efêmero, transitório. O excesso de informações nunca será o mesmo caldo de cultura e conhecimento que os grandes romancistas contribuem para o nosso desenvolvimento intelectual.

Antes de terminar, e ainda sobre o caráter efêmero da informação aqui dentro, por outro lado, além da rapidez e da superficialidade do veículo, uma coisa que chama a atenção, em vários sentidos, é que belíssimos textos são escritos em milhares de páginas na web, belos trechos, comentários e apreciações, perdidos e dispersos nesse labirinto de páginas e janelas que formam a internet. Qual o futuro da maioria dessas publicações? É uma pena que isso não possa ser mais bem preservado e localizado. A impressão é que algo está sendo desperdiçado, engolido pelo próprio mecanismo que propiciou sua existência. Pois é esse caráter transitório que faz com que as coisas na web sejam efêmeras demais. Um bom texto escrito hoje, amanhã ninguém mais lembra, não será mais lembrado, perdido na infinidade de palavras que se joga por aqui. Algo que não transmite a impressão (ou ilusão de) durabilidade que existe nas palavras impressas em livros, revistas e jornais. Por isso que quem gosta de literatura jamais a deixará totalmente de lado em favor de outros veículos virtuais, ou mesmo de demais tecnologias audiovisuais.

No fundo, além de discorrer sobre a literatura (uma de minhas maiores paixões), tudo que eu escrevi acima é porque eu não quero me transformar num escritorzinho de internet. Simples. Enfim, vamos ver o que o destino nos reserva.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

No Surprises - Radiohead



Como faz muitos dias que não posto nada por aqui, irei dedicar este espaço a um videoclipe tirado diretamente do yortube. Não sou muito chegado a esse tipo de postagem, porém esse não é um vídeo comum. É o clipe que eu mais gosto da minha canção favorita de minha banda predileta entre as atuais. Sim, sou daqueles que consideram o Radiohead a melhor banda dos últimos vinte anos no cenário mundial (que me perdoem os muitos fãs do Nirvana, mas Ok Computer é muito superior ao Nervermind). E minha musica predileta, é claro, está no fabuloso Ok Computer, um disco que é uma estupenda conjunção de doze faixas com uma complexidade toda especial e com uma sonoridade única. Não se trata dos temas em torno de rebeldes sem causa dos quais se alimentaram a maioria das outras bandas nos últimos tempos, mas sim um álbum conceitual sobre a angustia do ser contemporâneo, tragado pela modernidade tecnológica que o cerca, da qual não consegue viver longe, quase que um certo desprezo pelo modo que se vive nessa virada de milênio, num processo de desumanização e conseqüente robotização do individuo que essas novas estruturas provocam no mundo atual, tudo em musicas intensamente melancólicas e estética e melodicamente perfeitas. Mesmo deixando de lado qualquer compreensão de seus conceitos e de sua estrutura, o álbum tem canções divinas que se apresentam maravilhosamente bem em conjunto ou isoladamente. A melhor para mim, sem dúvida nenhuma, é No Surprises (embora a maioria do Universo prefira Paranoid Android), a canção que eu gostaria em que no dia em que eu morresse, fosse tocada no meu velório. Perfeita. Sempre a escutei como uma desesperada canção de ninar feita não para quem recém nasceu, mas para alguém que está morrendo. Veja o clipe e/ou leia a tradução da letra, e entenda a grandeza de No Surprises.

Letra Traduzida:
http://radiohead.letras.terra.com.br/letras/78965/

Movimento Cinema Livre

Movimento Cinema Livre - Orkut

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