domingo, 15 de julho de 2007

Algumas Considerações sobre o Universo Virtual

Por que será que eu já não leio como antes? Explica-se: lembro que há uns dois anos, antes de me render aos encantos e sedução de ter internet em casa, eu lia muito mais do que atualmente. Não pretendo esboçar nenhuma crítica virulenta ao mundo virtual, um veiculo o qual eu usufruo com imenso prazer, porém sinto saudades de épocas em que costumava ler até três livros por semana e, consequentemente, escrevia muito mais do que hoje em dia. Fico imaginando o quanto é difícil para muitos, como o é para mim, conciliar internet e outros hábitos caseiros imprescindíveis, no caso, os de leituras de livros importantes e a rotina de se escrever com mais disciplina.


A internet consome demais a gente. O que estou tendo dificuldades é em me policiar nesse sentido, determinando uma rotina, reservando horários, principalmente para escrever. Caso contrário, a tendência é mergulhar nesse universo virtual, a atração é grande, as possibilidades infinitas. A solução mesmo seria encontrar um meio de estruturar e conciliar tudo isso. Porque viver sem internet a maioria de nós sabe que não é mais possível. Cada vez mais vai virar utopia um individuo querer escapar desse meio, depois de ter usufruído do mesmo. Como voltar a realidade apagada e esmaecida do dia-a-dia em nosso meio social, e deixar de lado a tela do micro que em seu universo tão vasto a tudo nos responde, nos seduz, e interage com nós? Lembro que certa vez num chat qualquer conversei com um outro apaixonado por literatura e ele disse que para a internet não atrapalhar sua rotina intelectual ele passou a usá-la apenas durante o expediente de trabalho (onde usufruía de tudo que lhe é de direito em todo tipo de sites em que quisesse navegar, plugado em MSN, youtube, orkut e demais pesquisas). Em casa, nunca! Só assim para ele continuar se dedicando aos seus hábitos de leituras e escrita.

Pois algum artifício, alguma combinação consigo mesmo a pessoa tem que estabelecer. Caso contrário, é como um canto de sereia, a máquina é sedutora (o chato é que eu detesto disciplina). A pessoa precisa colocar cera no ouvido ou se amarrar num mastro, como Ulisses e sua tripulação. Caso contrário fica bem difícil colocar ordem nas coisas. No entanto, acredito que aquilo que a gente também gosta como ler e escrever, aos poucos também nos atrairá de novo com sua melodia própria. Para quem lida e gosta disso fica difícil largar dessa maneira. Por isso acho que, com uma ajuda consciente da própria pessoa, o problema se resolverá naturalmente. Mesmo porque, por mais informações que a internet transmita,e por mais espaço que exista para a gente deixar algumas palavras escritas ao léu, a sensação é que aqui tudo é rápido, ligeiro e superficial, muito efêmero, transitório. O excesso de informações nunca será o mesmo caldo de cultura e conhecimento que os grandes romancistas contribuem para o nosso desenvolvimento intelectual.

Antes de terminar, e ainda sobre o caráter efêmero da informação aqui dentro, por outro lado, além da rapidez e da superficialidade do veículo, uma coisa que chama a atenção, em vários sentidos, é que belíssimos textos são escritos em milhares de páginas na web, belos trechos, comentários e apreciações, perdidos e dispersos nesse labirinto de páginas e janelas que formam a internet. Qual o futuro da maioria dessas publicações? É uma pena que isso não possa ser mais bem preservado e localizado. A impressão é que algo está sendo desperdiçado, engolido pelo próprio mecanismo que propiciou sua existência. Pois é esse caráter transitório que faz com que as coisas na web sejam efêmeras demais. Um bom texto escrito hoje, amanhã ninguém mais lembra, não será mais lembrado, perdido na infinidade de palavras que se joga por aqui. Algo que não transmite a impressão (ou ilusão de) durabilidade que existe nas palavras impressas em livros, revistas e jornais. Por isso que quem gosta de literatura jamais a deixará totalmente de lado em favor de outros veículos virtuais, ou mesmo de demais tecnologias audiovisuais.

No fundo, além de discorrer sobre a literatura (uma de minhas maiores paixões), tudo que eu escrevi acima é porque eu não quero me transformar num escritorzinho de internet. Simples. Enfim, vamos ver o que o destino nos reserva.

6 comentários:

Tércio R. Kneip disse...

Gosto da expressão "ficção virtual" o que dá um certo gosto ao novo tempo gráfico. Advento. A internet leva o público não leitor ao estímulo da leitura. O difícil é lidar com algo sempre em transformação. Havendo milhões, bilhões, trilhões de caminhos e poucas trilhas, um só usuário não especializado. Alguém que espera apenas passar o tempo. Um leitor de gibi. Ter uma especificação relacional objetiva com a internet é livro ainda para ser apontado como um dos mais vendidos. Ser ou não ser escritor virtual é uma boa questão. Quem são os melhores escritores virtuais da nossa região? Os melhores momentos da WEb. Parabéns, pelo excelente trabalho cultural da página!

Vlademir lazo Corrêa disse...

Tércio, concordo com a maioria das tuas considerações. Apenas desconfio da afirmação de que a internet leve o público não-leitor ao estimulo da leitura. A meu ver, o pessoal que não é chegado a ler não o faz nem por aqui (considerando o que chamamos realmente de leitura),imagino que sejam gente que se limitam a ler apenas frases que acompanham as figuras e imagens da janela virtual, para já no momento seguinte geralmente esquecer as palavras que leram. Ou seja, um ato de leitura sem embasamento nenhum, infrutifero. Ainda menos que um leitor de gibi. Por outro lado, gostei da expressão "ficção virtual", e mais ainda de tua indagação hamleteriana sobre "Ser ou não Ser escritor virtual". Mais do que uma indagação, é uma certeza que, para o bem ou para o mal, nenhum de nós deixará de usufruir o papel de escritor virtual. A questão maior vai ser se conseguiremos ser mais do que isso.

DIARIOS IONAH disse...

Ola Vlademir
entendo o que voce escreveu e muito.....a unica forma que fiz para continuar lendo apesar da Internet eh fingindo que ela nao existe por alguns momentos.nestes momentos leio ou jogo ou mesmo escrevo cartas manuscritas, inclusive ando lendo EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO , E ESTOU FASCINADA COMO O Marcel Proust PODE ESCREVER TAO BEM!com certeza ele as ;etras e o papel eram uma unidade!
ah! obrigada por seu comentario no meu blog ABRKDBRA.....

Tércio R. Kneip disse...

É preciso isolar alguns pontos no imenso campo de plurissignificado. Não se trata de reduzir capacidade para compreender o alcance, mas aumentar a amplitude com a sede da pesquisa. Computador, emprego e renda sugerem um novo desafio. Desenvolvimento com inclusão digital. Na prática desconhecemos a linguagem “marketing”, (realidade de interior urbano nacional), mas compramos “mídia” quando adquirimos um micro. Aporte para integração da “pessoa física” no universo virtual revelaria uma perfeita integração nesse setor de grande abrangência. Uma relação entre tecnologia social e novo ciclo virtual da produção. Sinto falta de programação básica quando passo da condição de melômano, telemaníaco, cinéfilo para navegador. Gastamos muito tempo buscando rumos quando os rumos são outros. Pessoa jurídica é diferente porque utiliza o computador de modo adequado. Sabe o que quer. Primeira pergunta: você já gastou muito tempo na internet sem uma meta definida? Segunda pergunta: Você já gastou muito tempo diante do computador mesmo com meta definida? Terceira pergunta: Procura estar apenas flanando? Sim. Não. Vale conferir.

Anônimo disse...

Há muito tempo se propaga a idéia de que o livro, no formato que conhecemos, morreu ou está muito próximo da sepultura. Aqueles que ainda seguem esse conceito baseiam suas teorias na digitalização dos textos, nos livros virtuais. Sendo assim, estaríamos fadados a apenas ter escritores virtuais.
Confesso que sou conservador e ainda prefiro ter um belo exemplar de um livro nas mãos,mas A internet não tem prejudicado a minha leitura. Na verdade, falta-me tempo. O dinamismo de universos corporativos e outros afazeres profissionais/acadêmicos acabam ocupando as 24 horas quase que em sua totalidade. Considero a internet extremamente benéfica a literatura também. Para quem tiver paciência, os clássicos da Literatura mundial estão a um clique.
Teoricamente, o problema é maior para os autores que precisam divulgar seus textos através desse competitivo mundo virtual. Infelizmente, não cabe todo mundo na "estante"...e o destino dos "perdedores" é sempre muito ingrato, resumindo-se a um texto arquivado num blog ou num tópico esquecido numa comunidade do orkut. Mas deve-se ressaltar que,ainda assim, esses autores podem ter seus leitores fiéis. Acredito que essa discussão seja ampla e suscite outra polêmica: afinal, qual é o papel do leitor contemporâneo? Pesquisador, crítico ou apenas receptor da informação?

Vlademir lazo Corrêa disse...

Tércio, respondendo suas perguntas, creio que todos nós já gastamos tempo em excesso com a internet, mesmo com ou sem uma meta definida. Não é que a internet seja um monstro de sete cabeças a nos devorar, mas que rouba o nosso tempo, isso sim, rouba, e muito. É afinal, a concretização do velho conflito homem versus máquina descrito nas histórias de sci-fiction. Quanto à terceira pergunta, imagino que é o que a maioria de nós o faz, apenas flanar no universo virtual.

Marcel, também sou conservador nesse ponto e sempre vou preferir um belo exemplar de um livro entre as mãos, o que faz com que raramente eu busque os e-books de tão fácil acesso na internet. Creio que o livro ainda vai sobreviver um bom tempo, por décadas, mas não consigo deixar de ter a impressão que mais cedo ou mais tarde o papel será considerado dispensável para a propagação de leituras e idéias.
Sobre a idéia de competição dos escritores no mundo virtual, acredito que não é tão diferente da do mundo jornalístico ou dos autores publicados ou não pelas editoras, com a diferença que na web parece que o espaço é bem mais amplo, sem que os autores deixem de se sentirem descartáveis (pelo fato do que você mesmo escreveu, quando se resumem a “um texto arquivado num blog ou num tópico esquecido numa comunidade do orkut”).
Quanto à questão que você levantou, é uma boa pergunta: como age o leitor diante de um universo que é bem mais recheado de imagens de tudo quanto é tipo de figuras (a maioria descartáveis), que quase sempre esmagam o que está escrito na tela? Creio que aqui, mais do que em qualquer jornal ou revista, a maioria dos leitores querem mesmo são imagens, uma atrás da outras...

Movimento Cinema Livre

Movimento Cinema Livre - Orkut

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