segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CAROS AMIGOS,

O OLHAR IMPLÍCITO está, agora, em outro endereço, num outro provedor, à principio em fase experimental, testando as possibilidades que o zip.net oferece. Mas os artigos antigos, guardados em ARQUIVOS, continuarão, por aqui.
Favor acessar: http://olhar.implicito.zip.net/

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

CAÇADA HUMANA (The Chase)


Bem no meio da agitadíssima década de 60, em que o mundo (e, por tabela, o cinema) passava por intensas transformações sociais, um dos filmes americanos que primeiro se aproveitou de sua época para explorar essa mudança de costumes foi CAÇADA HUMANA (The Chase), dirigido por Arthur Penn em 1966. Injustamente esquecido como grande cineasta que era, Penn já havia se estabelecido em Hollywood como uma autêntica revelação por causa do enorme sucesso de O Milagre de Anne Sullivan e do pouco conhecido Mickey One (considerado por muitos uma pequena obra-prima) e deflagraria um novo modelo de filme hollywoodiano (mais cínico, violento, crítico e amoral) com o retumbante sucesso mundial de Bonnye & Clyde, em 1967. Mas um pouco antes realizaria o denso, sério CAÇADA HUMANA, que infelizmente não teve a mesma sorte de angariar um êxito comercial e popular que pelas suas qualidades o filme bem que merecia. Bubber Reeves (Robert Redford) é um presidiário rebelde e imprevisível que escapa da cadeia mesmo que seu período de prisão esteja relativamente perto de terminar. Ele foge com um companheiro e este mata um homem, ficando ele acusado pelo assassinato e então se dirige a sua cidade natal, uma pequena localização do Texas, e isso abala radicalmente o cotidiano, tédio, ganância e mesquinharia de toda população local, acostumada com a tranqüilidade e monotonia do dia-a-dia, mas afeta sobretudo a rotina do xerife Carder (Marlon Brando), o encarregado de manter a ordem. Além de ter que encontrar e prender o foragido, o xerife precisa cuidar e evitar que pessoas próximas ao prisioneiro o ajudem, como a sua mãe (uma envelhecida Miriam Hopkins, estrela de clássicos da década de 30), e especialmente a esposa do condenado (Jane Fonda, prestes a se tornar símbolo sexual), que se mantém como prostituta e a quem o marido acaba recorrendo. Mas mais perigoso para o xerife é ter que conter a ação de muitos da cidade que querem acertar contas com o fugitivo, entre eles um poderoso milionário, Val Rogers (E. G. Marshall), desesperado em encobrir a paixão do filho (James Fox) pela esposa do presidiário. Rogers é um magnata do petróleo que é o manda-chuva do lugar e que procura controlar a tudo e a todos (incluindo o próprio xerife, a quem conferiu o importante cargo que ocupa) e pretende aproveitar a oportunidade para de uma vez por todas eliminar o criminoso, mas o xerife faz questão que tudo se resolva dentro da lei. Brando interpreta um personagem que é uma mistura de dureza e fragilidade, atuando com a naturalidade e até displicência que lhe era característica, com alguns maneirismos que são recorrentes em sua carreira de ator, como coçar o nariz e falar fanho, além da predileção por cenas em que é vitima de agressões físicas de modo bastante exagerado. À parte disso, é o seu personagem que tenta inserir sensatez num ambiente que se transforma em um circo de proporções gigantescas e que parece que não terá um outro desfecho senão a tragédia. O filme ainda tem Robert Duvall como um marido covarde, em pânico com a chegada do fugitivo, tendo inclusive solicitado a proteção pessoal do xerife, o que faz com que ele seja vitima de chacotas e zombarias de todos ao seu redor, e também conta com a presença de Angie Dickson, no papel da esposa do xerife. Descrito dessa maneira, o enredo de CAÇADA HUMANA nada tem de diferente, fazendo parecer que o filme ainda é ligado as estruturas clássicas do cinema americano, o que de fato não deixa de ser verdade. O que o filme acrescentou de novo ao panorama cinematográfico de seu país naquele tempo foi a preocupação em retratar uma espécie de crise da sociabilidade americana, um clima de violência e intolerância que se instalava naquele período por causa da tal revolução de costumes (crises sócio-políticas, consolidação do rock, movimento da contracultura e certa liberdade sexual). Mais do que um filme policial que a sinopse pode sugerir, esse é um drama de ação voltado às relações sociais e psicológicas dos personagens, com uma certa violência de gestos, de palavras que cria um clima de ferocidade contida quase sempre prestes a explodir na tela. O roteiro, da escritora Lillian Hellman, baseado em romance de Horton Foote, apresenta uma visão pessimista do ser humano, formando um painel crítico da falsa elegância do puritanismo da América, com temas como racismo, injustiça, hipocrisia, intolerância e alienação, tudo de um modo concreto que está muito longe de qualquer idealização. Por trás de uma história aparentemente policial, esconde-se uma trama cheia de surpresas podres. Vários problemas de produção, bastante divulgados na época, atrapalham esse filme brilhante que bem poderia ser descrito como uma “obra-prima maldita”, termo utilizado para filmes que, mesmo realizados por grandes cineastas, baseados em livros importantes ou com a participação de roteiristas talentosos, não resultaram à altura do esperado por alguns percalços de produção, locações complicadas, escalação inadequada de elenco, etc. Mas seu potencial está visível, latente, mesmo que nas entrelinhas ou perdido entre planos e seqüências, deixando antever o que poderia ter sido, em circunstâncias normais (o Truffaut chamava de "grandes filmes doentes"). Caçada Humana é um exemplo perfeito dessa definição. As filmagens foram um caos, e o diretor teve dificuldades em dar unidade para uma narrativa incompleta, pelo fato de o roteiro não ter sido integralmente filmado devido às atribulações com o estrelismo do atores, incluindo abandono de set. O filme acabou se tornando um pouco disperso e irregular em alguns momentos, com seu excesso de personagens e subtramas, mas não deixa de ter um resultado vigoroso, uma obra de altíssima qualidade.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Os Olhos Sem Rosto


Outro dia tive um dos maiores sustos cinematográficos de minha vida com o impacto de "Os Olhos Sem Rosto" (1959), do diretor Georges Franju.
A história é das mais insólitas já vistas em celulóide: um cirurgião parisiense especialista em transplantes, traumatizado por ter provocado um acidente de automóvel que desfigurou o rosto de sua filha, a mantém reclusa dentro de sua casa, enquanto que, com a ajuda de sua maquiavélica enfermeira, sequestra lindas garotas dos arredores de Paris para que o médico retire os seus rostos cirurgicamente, a fim de tentar transplantá-los na face de sua própria filha.
O resultado é um filme de terror dos mais assustadores, mas cheio de sutílezas, original, gélido e inquietante, sem necessidade de exageros, amparando-se mais em seu argumento cruel e compondo uma atmosfera lúgubre de desolamento, horror, solidão e aflição. Não há como não sentir um misto de comoção e pavor com a imagem da garota vagando cheia de incertezas e melancolias pelos amplos corredores da casa, com sua máscara branca de porcelana a esconder o rosto deformado e seus vestidos longos e compridos, enquanto aguarda os resultados das bizarras experiências de seu pai. Outras cenas cortantes e surpreendentes se sucedem, num clima de absoluto surrealismo, mas descrito com naturalidade, equilibrio, terror e poesia.
Só vendo para crer o quanto esse é um filme maravilhoso.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Muito Além do Jardim


Esse filme de Hal Ashby foi muito visto nos cinemas em seu lançamento (1979) e e em muitas reprises na TV aberta brasileira durante a década de 80. Estava esquecido, mas um recente lançamento em DVD no Brasil fez com que ressurja para muitos espectadores. Espécie de Forrest Gump dos anos 70, tem Peter Sellers como Chance, um ingênuo jardineiro que passou a vida toda trabalhando na mansão de um milionário, sem contato com o mundo exterior, apenas cuidando de plantas e vendo televisão. Quando o patrão morre, ele tem que sair da casa e se virar num mundo bem mais complicado, quando conquista a simpatia de ricaços, figuras notórias e até do presidente com seus modos estranhos e calados, quase sempre repetindo frases batidas, jargões, gestos e atitudes que assistira na TV, mesmo que ele jamais consiga entender o que se passa ao seu redor. O que acontece é que, no contexto em que essas frases são ditas, suas palavras soam como opiniões geniais sobre os problemas do mundo, e por mais simplista que sejam as tiradas que ele profere, uma série de inacreditáveis e insólitas circunstâncias faz com que ele seja considerado uma mente brilhante. Embora com semelhanças a Forrest Gump, Muito Além do Jardim tem o mérito de não ser um elogio a mediocridade e a caretice que nem a genial fábula estrelada por Tom Hanks. No filme de Ashby, tudo é apresentado de um modo bastante irônico e como uma crítica das mais sutís por mostrar que não há idiota que não seja considerado um gênio do lado de alguém mais burro ainda. Mas não chega a ser uma crítica acida, mas sim uma sátira deliciosa, uma mescla de drama e comédia para sorrir e refletir. Parece que durante anos foi um projeto pessoal de Peter Sellers, que considerava este o único filme à altura de seu talento (apesas de Dr. Fantástico). De fato, é o grande papel da carreira do ator, engraçado como de costume e comovente como nunca. Sua não-premiação com o Oscar de melhor ator representa uma das maiores injustiças da Academia de Hollywood, que preferiu conferir como doação uma estatueta de coadjuvante para Melvyn Douglas (como o ricaço que acolhe o jardineiro), na época muito doente, e preteriu Sellers em favor de Dustin Hoffman, pelo seu desempenho em Kramer vs. Kramer (apenas uma atuação competente de Dustin, nada mais). Mas o que importa é que Muito Além do Jardim não envelheceu em nada, e ainda é um filme inesquecível. Uma pequena obra-prima.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Novos textos no Armadilha Poética

Estou passando para divulgar meus dois mais recentes textos publicados no site Armadilha Poética. Os textos são a respeito de dois grandes lançamentos recentes em DVD pela distribuidora Versátil: Aurora, um dos filmes da minha vida, talvez a mais perfeita obra muda do cinema; e o genial O Bandido da Luz Vermelha, uma das mais criativas explosões de talento no cinema brasileiro, sem dúvida um dos três ou quatro melhores filmes nacionais de todos os tempos. E também está no ar desde a semana passada uma entrevista que realizei com o cineasta underground catarinense Petter Baiestorf, um apaixonado pela arte de filmar histórias ultrajantes e escatológicas. Vale a pena conferir.
Desde já, agradeço ao trabalho de quem se dispuser a ler. E não deixem de conferir os outros textos do site não só na seção de cinema mas também nas partes de música e de literatura.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Corrida Contra o Destino


Sou fascinado pelo cinema americano da década de setenta. Os cineastas tanto os consagrados quanto os mais obscuros tinham uma liberdade dramática e temática (somada a uma evolução tecnológica cinematográfica) inéditas para experimentar, arriscar. Por outro lado, os Estados Unidos viviam uma época de crise com o envolvimento na guerra do Vietnã, a questão do petróleo, manifestações sociais violentas. Esse quadro acabou se refletindo nas telas de cinema, com filmes cada vez mais ousados, contundentes, dramáticos, abordando a juventude rebelde com absoluto realismo e se preocupando mais em retratar personagens à margens da sociedade do que vangloriar os mais profundos mitos americanos.Eram obras de alta dramaticidade e maturidade obtidas com total minimalismo, com efeitos puramente cinematográficos. Parecia que o cinema rumava para um estágio superior, refletindo de forma artística sua época sem perder a noção da empatia, de cativar. Mesmo as tentativas de recuperação dos musicais (principalmente os dirigidos por Bob Fosse)ou dos faroestes (BUTCH CASSIDY e MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA, ambos do final da década anterior), longe de serem irrelevantes fantasias escapistas, tiveram que passar pelo crivo das novas exigências,com uma tomada de posição diante da realidade. Até em super-produções, se fazia um retrato pouco simpático de um general americano, como em PATTON... Ou a própria ficção-científica, que nos brindava com filmes como O PLANETA DOS MACACOS, O ENIGMA DE ANDRÔMEDA, A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA... Obras ainda atuais, perfeitas, tanto em forma quanto conteúdo (sem mencionar 2001, Uma Odisséia no Espaço, que transcende qualquer gênero ou rótulo). Enfim, mesmo os filmes de ação da época eram diferenciados e filmes menores atingiam uma àspera grandeza que os tornam realmente marcante. Um dos exemplos mais notáveis é o fantástico CORRIDA CONTRA O DESTINO (Vanishing Point), que volta e meia me encontro revendo no aparelho de DVD. É sobre um cara, Kowalski, que aceita o desafio de viajar mais de 1500 Km em 15 horas, guiando seu Challenger Branco 1970 de Denver, no Meio-Oeste americano, até São Francisco, no Extremo-Oeste. Uma missão quase impossivel. A policia rodoviária promove uma grande e incansável perseguição no encalço do obstinado motorista, disposto a tudo a cumprir seu objetivo. Com roteiro assinado pelo escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (com o pseudônimo de Guillermo Cain), é um filme com estilo bem anos setenta, sério, adulto, consistente, emocionante, vigoroso, contundente, critico, uma revolta ao establishiment e às regras impostas pelo sistema e com final de grande impacto. O filme inteiro é uma sensação mista de alegria, tristeza, liberdade, dor, lamento O herói (se é que pode-se chamar assim ao protagonista) é interpretado por um ator (Barry Newman) sem estrela, competente mas sem carisma e sem beleza, ao contrário de dez em cada dez filmes de ação e aventura que se tem feito nos últimos vinte anos. Há que se destacar também a inspiradissima participação especial de Cleavon Little como o disc-jóquei cego e negro que incentiva e acompanha a jornada do motorista através do rádio (por sinal, a trilha sonora é um primor, cheia de belos clássicos do rock). Talvez seja o melhor filme de carros já realizado, com emocionantes perseguições de automóveis. Com tema bastante semelhante ao de Easy Rider-Sem Destino, é bem superior a esse e é mais admirado nas revisões do que na primeira vez que se assiste. Parece que Tarantino se inspirou um pouco nele para realizar o seu recente Death of Prove. Filmaço. Mas fujam de um estúpido remake realizado nos anos 90 com Viggo Mortensen (bem canastrão), que jogou para o espaço todas as qualidades e o teor contestador do filme original (sério, essa refilmagem é mais um filme de ação do que um recriação fiel do primeiro filme). Para Kowalski ( o original) a velocidade significava liberdade.

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