segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

revisão: OS BRUTOS TAMBÉM AMAM



Embora a intenção principal desse blog seja escrever sobre filmes mais obscuros, não resisti a vontade de discorrer sobre o clássico SHANE(1953), após revê-lo nesse último domingo, um filme que redefiniu e consolidou algumas das principais tendências do faroeste (cinquenta anos depois de O Grande Assalto do Trem ter inaugurado o gênero) e criou um dos mais célebres motes do cinema: o herói solitário vindo ninguém sabe de onde que chega em um local para livrar a população da opressão dos poderosos do lugar (um mote que seria repetido infinitas vezes em vários outros filmes posteriores, inclusive os de Sérgio Leone). Se por um lado isso por si só faz de Shane um verdadeiro marco, também não deixa de ser verdade que por ter sido tão imitado, copiado e retomado, o filme pode se apresentar aos olhos atuais como um tanto quanto datado e envelhecido, ainda mais pelo gênero ter tido tantas releituras mais cínicas e ultraviolentas pelas mãos de gente como Sam Peckinpah e do próprio Leone (bem como de todos os western-saguetti em geral). Soma-se a isso o fato de que George Stevens não é idolatrado pela maioria dos cinéfilos como um legítimo autor, não obstante os clássicos que realizou, o que faz com que seus filmes estejam num patamar de admiração menor do que mesmo os faroestes de outros cineastas mais consagrados. À parte disso, confesso que a principio o tom bucólico de OS BRUTOS TAMBÉM AMAM me incomodou, deixando o filme um tanto ingênuo e pueril, e a música de Victor Young estava me irritando. Mas não demorou muito para que as qualidades do filme se impusessem, confirmando que o filme ainda é um espetáculo notável. E mesmo a trilha de Young é muito bonita, evoluindo em meu conceito a medida que o filme estava crescendo. Uma tensão muito forte perpassa grande parte da obra como prova de que o brilho de um autêntico clássico jamais se apaga diante de seus sucessores e de suas imitações ao longo dos anos. Como já foi dito, o argumento é o mesmo de muitos outros faroestes que se seguiram, mas SHANE tem a diferença decisiva de ser mais tocante do que qualquer outro western. E tudo em SHANE se apresenta com harmonia. O roteiro é um dos mais bem construidos do gênero, a direção de Stevens é perfeita e a fotografia de Loyal Griggs é de encher os olhos, uma das mais belas do cinema. É a melhor já vista em qualquer exemplar do gênero. E eu não lembro de faroestes antes de SHANE ter um vilão tão assustador como o demoníaco pistoleiro interpretado por Jack Palance, uma figura esguia trajado de negro e sorriso cruel na face medonha, uma das mais fortes representações da morte no cinema. Um vilão que só poderia ter como antagonista um herói (encarnado por Alan Ladd) dos mais admiráveis, cheio de retidão, amargura e senso de justiça. Para no fim voltar ao desconhecido depois de ter livrado a população de todo o mal, baleado, ferido, numa bela cena de despedida, com Shane cavalgando para o mais longe possível, com o vale ficando para trás, bem distante...

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