terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Muito Além do Jardim


Esse filme de Hal Ashby foi muito visto nos cinemas em seu lançamento (1979) e e em muitas reprises na TV aberta brasileira durante a década de 80. Estava esquecido, mas um recente lançamento em DVD no Brasil fez com que ressurja para muitos espectadores. Espécie de Forrest Gump dos anos 70, tem Peter Sellers como Chance, um ingênuo jardineiro que passou a vida toda trabalhando na mansão de um milionário, sem contato com o mundo exterior, apenas cuidando de plantas e vendo televisão. Quando o patrão morre, ele tem que sair da casa e se virar num mundo bem mais complicado, quando conquista a simpatia de ricaços, figuras notórias e até do presidente com seus modos estranhos e calados, quase sempre repetindo frases batidas, jargões, gestos e atitudes que assistira na TV, mesmo que ele jamais consiga entender o que se passa ao seu redor. O que acontece é que, no contexto em que essas frases são ditas, suas palavras soam como opiniões geniais sobre os problemas do mundo, e por mais simplista que sejam as tiradas que ele profere, uma série de inacreditáveis e insólitas circunstâncias faz com que ele seja considerado uma mente brilhante. Embora com semelhanças a Forrest Gump, Muito Além do Jardim tem o mérito de não ser um elogio a mediocridade e a caretice que nem a genial fábula estrelada por Tom Hanks. No filme de Ashby, tudo é apresentado de um modo bastante irônico e como uma crítica das mais sutís por mostrar que não há idiota que não seja considerado um gênio do lado de alguém mais burro ainda. Mas não chega a ser uma crítica acida, mas sim uma sátira deliciosa, uma mescla de drama e comédia para sorrir e refletir. Parece que durante anos foi um projeto pessoal de Peter Sellers, que considerava este o único filme à altura de seu talento (apesas de Dr. Fantástico). De fato, é o grande papel da carreira do ator, engraçado como de costume e comovente como nunca. Sua não-premiação com o Oscar de melhor ator representa uma das maiores injustiças da Academia de Hollywood, que preferiu conferir como doação uma estatueta de coadjuvante para Melvyn Douglas (como o ricaço que acolhe o jardineiro), na época muito doente, e preteriu Sellers em favor de Dustin Hoffman, pelo seu desempenho em Kramer vs. Kramer (apenas uma atuação competente de Dustin, nada mais). Mas o que importa é que Muito Além do Jardim não envelheceu em nada, e ainda é um filme inesquecível. Uma pequena obra-prima.

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