quinta-feira, 5 de abril de 2007

Jean-Luc Godard ( Parte 1)


Jean-Luc Godard é sinônimo de vanguarda. Para muitos, vanguarda quer dizer arte superior. Geralmente quem gosta de filmes de vanguarda costuma ter complexo de superioridade, narizinho empinado, descaso para quem não compartilha de suas preferências artísticas. Eu gosto de obras de vanguarda. Mas não possuo complexo algum, tampouco tenho nariz empinado. O que me salvou de ser um pedante cheio de arrogância e metido a superior foi o fato de desde menino assistir produções comerciais hollywoodianas, e encontrar qualidades em muitos filmes dessa tendência. Se quando criança eu comecei a assistir alguns dos melhores filmes de todos os tempos, ao mesmo tempo fiz parte do (inseleto) grupo de espectadores de filmes de ação e efeitos especiais. Não que eu gostasse tanto de filmes imbecis. Um ou outro talvez. Porém sempre tive a capacidade seletiva de saber filtrar o melhor entre o que as circunstâncias de cada momento me proporcionavam. Mais tarde, ao conhecer filmes mais arrojados, experimentais e alguns até mesmo indecifráveis, foi que adquiri uma visão muito mais ampla e profunda sobre a sétima arte. Mas não dispenso um bom blockbuster. Se for de qualidade, claro.
Voltando à Jean-Luc Godard, seu nome permanece como o exemplo de diretor mais alternativo, intelectual e chato da história do cinema. Nem tanto. Não é dos mais chatos, nem seus filmes são tão intelectivos como se supõe. Ele quase que não conta histórias, expõe idéias, ritmo descontinuo, narrativa fragmentada, incorporando ao seu discurso fílmico trechos de literatura, quadrinhos, música erudita e artes plásticas. Desconstruindo a linguagem cinematográfica, optou por fazer “ensaios” em filmes de ficção, suas películas são mais dissertação que enredo, este geralmente quase que inexistente. Seu amigo e colega de geração Glauber Rocha o venerava: ''Quem quiser me ofender basta falar mal de Godard''. Demais, não posso falar muito da obra do diretor francês porque até o momento vi apenas três de seus filmes, que, entretanto, são alguns dos principais momentos de sua obra, portanto, possuo uma idéia de sua carreira, mas não um conhecimento integral da mesma. Pelo pouco que sei digo que Godard talvez seja melhor teórico de cinema do que propiamente cineasta, porque alguns dos livros de sua autoria que tive a oportunidade de ler são fundamentais na estante de qualquer bibliocinéfilo. Para não incorrer em erros e falhas a propósito do célebre cineasta francês, irei fixar-me somente aos filmes que assisti.
O primeiro que conferi foi o detestável Je Vous Salue Marie. Esse sim é terrivelmente chato. Não é da fase clássica do cineasta, por isso está perdoado. Na época do lançamento, 1986, foi noticia em todos os lugares pela celeuma que despertou contra a Igreja Católica devido a suposta provocação à Virgem Maria. O pior é que o filme nem é tão provocador, nem mesmo irreverente, apenas monótono e muito lento. Um desafio aos insones de plantão. Uma pretensa atualização da Virgem, releitura dos acontecimentos que envolveram a mãe de Jesus Cristo relatados na Bíblia, o mérito da obra foi recontar os fatos de maneira mais realista, emprestando a personagem um aspecto mais terreno, feminino, só que é mais uma alusão que propriamente uma afronta. No filme Maria é filha de um dono de um posto de gasolina, ela é casada com José, motorista de táxi. O paralelo com a narrativa bíblica é o suposto Anjo que aparece diante dela anunciando sua gravidez. Mesmo prenhe, a moça jura ao noivo que ainda permanece virgem. Poderia ser bem mais intrigante se o cineasta não tivesse optado por se afastar de maneira tão extrema das convenções tradicionais do cinema. Quem quiser conferir versões alternativas mais interessantes de episódios bíblicos que procure as versões que Pier Paolo Pasolini e Martin Scorcese fizeram dos Evangelhos, muito mais cinema do que tédio.




Um comentário:

DIARIOS IONAH disse...

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