sábado, 28 de abril de 2007

Clint Eastwood


Não é que gostamos mais de Clint Eastwood do que dos outros atores. O que acontece é que o conhecemos a bem mais tempo do que o restante dos astros que fulguram no tapete de estrelas da sétima arte. O mais incrível é que sua carreira já teve pelo menos meia dúzia de apogeus. Mais incrível ainda: a maioria desses apogeus foi tão diferentes entre si, que sua trajetória parece inverossímil, como se fossem necessários várias encarnações para conciliar todas elas. Mas Clint Eastwood reuniu tudo isso em “apenas” cinqüenta anos de carreira.
Quem te viu, quem te vê. Quando ingressou no cinema, nos anos 50, conseguiu participar de várias produções da Universal, todas de terceira categoria _ alguns desses filmes B tornariam-se clássicos do cinema fantástico (A Revanche do Monstro e Tarântula, ambos de Jack Arnold) ou sucessos momentâneos como Francis Na Marinha (de uma série protagonizada por um mulo falante!). Trabalhou também em filmes menores estrelados por Rock Hudson, Mauren O’Hara, Ginger Rogers e Teresa Wright e conseguiu um papel maior em Lutando Só Pela Glória, de William Wellman(famoso por ter dirigido o primeiro filme a ganhar o Oscar: Asas). Considerando-se que era pobre e limitadíssimo como ator, até que Clint estava indo muito bem. Mas nada podia prever o quanto ficaria famoso nas décadas seguintes.
Em 1958 conseguiu o papel de caubói no seriado de TV Rashwide, que durou sete anos, seu primeiro contrato estável, e ele teve certeza de que esse era o seu apogeu. Não era (na época era quase impossível um ator fazer sucesso na TV e depois no cinema. A transição é complicadíssima ainda hoje e Clint tinha tudo para tornar-se um dos tantos atores de fama curta em seriados e, estigmatizado, não conseguir mais tocar a carreira). Nos anos 60, num intervalo do seriado, foi escalado para protagonizar na Itália um faroeste obscuro de um diretor não menos obscuro, quase estreante, um projeto que tinha tudo para não dar em nada. Hoje parece fácil, mas realmente naquela época não poderia haver nada menos promissor do que ir para a Itália trabalhar em faroestes! O filme (Por um Punhado de Dólares) foi um sucesso, Clint abandonou seu seriado de TV e fez mais dois faroestes que marcaram época e tornaram-no um astro popular com seu estilo minimalista de “homem sem nome” com poucos diálogos e presença marcante. Clint poderia ter pensado que esse era o seu auge. Mas enganou-se porque depois de voltar para a América e criar sua produtora Malpaso, associando-se com o mestre Donald Siegel, tornando-se um astro de verdade com sucessos como Dirty Harry, que o levaram a ser uma das maiores bilheterias e o maior salário as época. Pôde até se dar ao luxo de diversificar sua carreira nessa obra-prima que é o Estranho Que Nós Amamos (que ainda paira esquecido e solitário em sua filmografia), despontar como um diretor talentoso em filmes tão marcantes quanto diferentes entre si( Perversa Paixão, que inspiraria dezesseis anos depois o abominável Atração Fatal, e O Estranho Sem Nome) e ocupar o espaço de maior caubói do cinema americano que antes era de John Wayne, numa época em que o faroeste estava quase enterrado. Pois Clint Eastwood manteve o gênero vivo por um bom tempo.
Claro que houve alguns tropeços na carreira, como Interlúdio de Amor (em que ele dirigiu William Holden), vários abacaxis (principalmente os protagonizados por orangotango) e a polêmica imagem de direitista e fascistóide de seus filmes policiais em que reagia ao hippismo paz e amor dos anos 60. Mas Clint abafava as criticas com retumbantes sucessos comerciais que o mantiveram no topo da parada e continuou se arriscando com filmes fora de seus padrões que o fez ser aclamado como um verdadeiro autor pelos franceses no Festival de Cannes em 1985. O curioso é que logo depois desse reconhecimento ele fez o pior filme de sua vida, O Destemido Senhor da Guerra (uma bomba ufanista inspirada na invasão americana em Granada), seguido por seu melhor trabalho como diretor até então (Bird), depois por mais uma bomba, e por ai vai... Foi quando, em 1992, realizou Os Imperdoáveis.
Nada indicava a consagração que teria com esse faroeste digno dos maiores clássicos do gênero (talvez o testamento definitivo do mito do western americano). Teve varias indicações para o Oscar, e Clint foi lembrado como melhor ator, diretor e produtor. Perdeu como ator, mas levou as estatuetas de melhor filme e direção, derrotando nomes como Robert Altman e James Ivory. Esse era o seu apogeu. Ou quase. Firme em sua carreira de diretor seguiu alternando sucessos de critica (As Pontes de Madison), de publico (o excelente O Mundo Perfeito, e Cowboys do Espaço) e riscos comerciais (Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal). Pois não é que depois dos setenta anos, quando ninguém esperava que ainda acrescentasse muito a sua filmografia, Clint Eastwood excedeu-se a si mesmo e criou duas obras-primas consecutivas: Sobre Meninos e Lobos e Menina de Ouro, cheios de indicações ao Oscar e, contrariando todas as apostas, duas novas estatuetas para Clint por Menina de Ouro, como melhor filme e diretor, dessa vez derrotando Martin Scorcese.
Muitos se apressaram em dizer que agora sim, Clint Eastwood está no auge. È bom não se afobar. O melhor que se pode dizer dele é que, dono de uma longevidade capaz de converter os inimigos mais ferrenhos, ele ainda tem muito gás para seguir em frente. Os recentes A Conquista da Honra e o japonês Caras de Iwo Jima (feitos simultaneamente) são a prova disso. Numa idade em que todos os diretores já se aposentaram ou então estão em franco declínio, Clint é um dos raríssimos nomes a ser uma exceção. Com 77 anos de idade, não é exagero supor que possa trabalhar por pelo menos mais dez ou quinze anos. Sua persona cinematográfica é lendária, e entre os cineastas veteranos em atividade, ele é, de longe, o que atravessa o melhor momento E mesmo que seu próximo filme não agrade totalmente, sempre ficará a expectativa de novas obras inesquecíveis em seu currículo.

2 comentários:

Everton disse...

Eu adoro Clint Eastwood tanto como ator quanto com diretor.
Ele ja dirigiu alguns filmes que não gostei como divida de sangue.
Mas é um bom diretor.
É isso aí viva o antigo e o atual Clint.
Bom texto Vlademir, ótimo blog.

Vlademir lazo Corrêa disse...

Obrigado, Everton.
Também estou muito entusiasmado com o atual momento de Clint Eastwood.
Lembro que há uns dez anos eu achava que ele não iria acrescentar muito a sua carreira, que ele já estava velho, coisa e tal.
Não foi o que aconteceu, e o cara está ai, realizando um grande filme atrás do outro.
Abraço

Movimento Cinema Livre

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